sábado, 7 de janeiro de 2012

Quem convidar para o seu casamento?

Quem será convidado para a sua cerimônia de casamento é, obviamente, uma decisão dos noivos e de mais ninguém. Quando eu me proponho a abordar o tema, o faço porque entendo que há uma certa inocência em relação ao fato de que esta é uma questão de escolha e não de constrangimento. Costuma-se fazer convites sob a força de certas pressões que me parecem absolutamente sem sentido. Vou citá-las e criticá-las, mas só apresento minhas opiniões e tenho a intenção de convidar à reflexão, especialmente, os noivos que estão se preparando para a organização de sua festa de casamento.

Quero começar afirmando que todos os seus amigos devem ser convidados para estarem presentes neste momento importantíssimo de suas vidas. Mas me diga, sinceramente, quantos amigos vocês têm? Eu disse amigos, não conhecidos ou colegas de trabalho. Não estou me referindo, também, aos seus primos de segundo ou terceiro grau, aqueles que vocês sempre encontram em casamentos e enterros. Estou falando de seus amigos e não dos amigos de seus pais, que vocês conheceram em um ou dois encontros ao longo da vida.

O casal deve ter em mente que o número de convidados para a festa de casamento é um dado fundamental, disso dependerá todas as outras coisas a serem definidas, tais como o local em que ocorrerá a cerimônia, os gastos com a iluminação, som e as despesas com buffet. Cada nome que vocês escrevem naquele papelzinho é dinheiro que vocês irão investir para que aquela pessoa esteja ali. Deve valer a pena tê-las junto de vocês, tanto no que diz respeito à alegria de vê-las neste tempo de máxima celebração, quanto pela energia espiritual que estando elas presentes trarão, numa junção de bons desejos para a felicidade de vocês.

Vamos analisar algumas questões críticas quando o assunto é a lista de convidados. A mais delicada, a meu ver, é se os amigos dos pais devem ser considerados nossos amigos também, e se é causa de uma “crise diplomática” deixar de convidá-los. Bem, a resposta não é simples, mas vamos a ela. Se, desde o início, vocês explicarem a seus pais que farão uma casamento simples (uma cerimônia íntima), isso pode ajudar a reduzir os desgastes. Além disso, é preciso que se diga que há um espírito, uma ideia clara no que vocês estão fazendo. Vocês estão numa contracultura em relação àquilo que se tem proposto como um mercado de bênçãos conjugais.

Mais ainda, se for verdade, digam que estão preocupadas em receber a benção de Deus e de seus pais e amigos, para esta jornada que é espiritual, mais que social, embora o seja também. E tem ainda os pais, espero que não seja o caso de vocês, que são absolutamente “sem noção”. Não vão pagar nada, ou quase nada, e desejam que façamos uma festa que “fique registrada na história da cidade”. Que é isso?!? A festa deve ficar registrada na história de nossas vidas e na memória dos que nos amam. A cidade que comemore o dia da padroeira! Contudo, não devemos radicalizar a ponto de não chamarmos pessoas realmente íntimas de nossos pais, não vale a pena magoar os nossos maiores parceiros no casamento e na vida, mas, sob hipótese alguma, percam as rédeas da festa de vocês.

Um outro ponto delicado é o que diz respeito a convidar os colegas de trabalho. Creio que precisamos estabelecer princípios. E o primeiro é que o casamento é um cerimônia íntima, para os amigos mais próximos (todo verdadeiro amigo é “próximo”). Se deixarmos isso claro, penso que evitaremos desgastes desnecessários. Nada de colocar um convite no quadro de avisos da empresa! Nada de convidar aquele seu colega que trabalha na mesa em frente a sua, por pura geografia executiva. Convide os seus colegas de trabalho que se tornaram seus amigos e quando o pessoal perguntar porque vocês não convidaram todo mundo, bote a culpa no Case Simples!

Também acho que vocês não devem convidar seus chefes por pura etiqueta coorporativa, isto pode, antes, ser entendido como um gesto adulatório, que não me parece cair bem na imagem de nenhum profissional. Mas, por outro lado, não deixem de convidar um superior hierárquico que você de fato respeita e admira, por medo do juízo de seus colegas. Tentem ser coerentes com os princípios que estabeleceram para vocês mesmos.

Por fim, vamos abordar a questão dos parentes. De cara temos a tendência de imaginar que se é parente deve ser convidado. Não penso assim. Entendo que devem ser convidados aqueles que são de nossa relação cotidiana. Pra falar a verdade, eu acho que os parentes distantes (quer pela sanguinidade, quer pelo afastamento em que vivem) nem esperam ou querem mesmo ser convidados, acabam indo por “consideração”. Logo, o que está em jogo não é tanto o grau de parentesco, mas a proximidade e a interação que durante a vida foram se formando.

Acho que se o casal conseguir chegar a um número entre 50 e 70 convidados, fez um feito digno de nota e devem compartilhar a experiência entre nós do Case Simples. Mas, a grande verdade é que um casamento simples não se mede pelo número de convidados, mas pelo foco no essencial, que é a benção de Deus e o encontro de amor que ali é celebrado. Simples é tudo aquilo que é feito com sinceridade, respeito e para a glória de Deus, dentro das posses de cada casal

Com carinho,

Pr. Martorelli Dantas

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Casamento Show ou Simples?

Eu fui ordenado pastor no dia 11 de março de 1991, quando eu tinha 23 anos. Havia me casado alguns anos antes, em 1989, na Igreja Presbiteriana da Boa Vista, na cidade do Recife. Foi uma cerimônia simples, como era costume entre os seminaristas e como permitiam as nossas condições à época. Como pastor presbiteriano era parte de minhas incumbências celebrar casamentos, devo ter feito não mais que 20 celebrações em 13 anos de ministério naquela denominação. É que entre os presbiterianos era costume que os pastores celebrassem os casamentos somente dos membros de sua igreja local. A maior parte destas celebrações envolvia pessoas de classe média-baixa ou baixa, este era o perfil das igrejas que pastoreei.

No ano de 2003, eu passei a colaborar na Catedral da Santíssima Trindade, como auxiliar do Bispo Paulo Garcia. Isto determinou uma série de mudanças em meu ministério, mas uma das mais importantes teve a ver com a celebração de casamentos. Como Dom Paulo era o ministro evangélico mais solicitado para celebrar os casamentos no Recife, ele não conseguia dar conta de todos os convites que lhe eram feitos, assim, muitas destas cerimônias iam sendo passadas para mim e para o Pr. Alexandre Ximenes, que também era auxiliar naquela época. Mudou tudo e mudou muito. A Catedral tem um perfil diferente, a maioria de seus membros são de classe alta e média-alta.

Mas, sobretudo, grande número de pessoas da alta sociedade pernambucana procura Dom Paulo para celebrar seus casamentos, quer seja pelo excelente orador que ele é, quer seja pelo seu ministério com casais que exerce há décadas, quer seja pelo fato de que há algum tempo os padres foram impedidos de celebrar cerimônias em espaços que não sejam templos católicos. Tive, então, oportunidade de presidir em poucos meses mais casamentos do que tinha feito em toda a minha vida pastoral. A cada dia eu ficava mais impressionado com a grandiosidade dos locais, decoração, orquestras e um sem número de outras questões que envolvem estes eventos, que agitam a cidade e movem uma poderosa e pesada “indústria de casar”.

Em 2007, ano em que me separei, eu deixei a Igreja Episcopal Carismática e comecei a Comunidade Cristã. Foi como um voltar às origens, em vários sentidos. Nossa liturgia é mais leve, não há entre nós estruturas hierárquicas nem vestes sacerdotais, só gente simples, adorando a Deus de todo coração, como eu sei que acontece também nos lugares por onde passei antes. A Comunidade é um grupo de pessoas de classe média-baixa, tendo algumas poucas pessoas de classe média-alta. Mudaram também os perfis das pessoas que me procuram para fazer seus casamentos. Como os contatos anteriormente eram feitos pela secretaria da Catedral, passaram a me procurar aquelas pessoas que são indicadas por cerimonialistas que já viram minhas cerimônias, ou mesmo por casais a quem eu casei.

Hoje continuo celebrando muitos casamentos, uma média de 30 celebrações por ano, na maioria são pessoas que eu não conhecia até me procurarem para que eu as case. São em sua grande maioria, também, pessoas de classe média-alta ou classe média-baixa, mas um dado me parece alarmante. Mesmo as pessoas sem um grande poder aquisitivo querem festas cujos padrões são definidos pelas que são promovidas pelos ricos e famosos. É como se um modelo tivesse sido definido e quem quiser “fazer um casamento que não faça vergonha” tem que seguir. Não falta quem dê conselhos, quem lembre como é que foi um casamento que viu ou que soube. Em julho de 2011 eu me casei com Karina, foi uma cerimônia simples, em L’Abri, a casa que hospeda a Comunidade Cristã (veja algumas fotos em meu Facebook).

Tem, também, aquelas reuniões com os cerimonialistas, com os músicos, com os buffets, com os decoradores etc., que dizem sempre: “porque vocês não fazem mais isso ou aquilo? Com um pouco mais vocês poderiam ter isso e aquilo”. Quando os noivos veem, vão gastar mais com a festa do casamento do que com todos os móveis e eletrodomésticos com que vão equipar o seu futuro lar. Não estou criticando estes profissionais, apenas descrevo o que acontece. Eles fazem isto de modo absolutamente legítimo, estão oferecendo seus produtos e serviços, e quanto melhores e maiores forem estes, mais dispendiosos serão, bem como maiores serão as chances de lucro, estamos em uma sociedade capitalista. Que eles prosperem e que possam a cada dia prestar melhores serviços!

Logo, o Case Simples não é um movimento contra o “mercado de casamentos”, que envolve um grande número de profissionais que estão defendendo de modo honesto e honrado o pão de cada dia. O nosso objetivo é mostrar aos casais que não faz sentido se endividar ou deixar de investir no essencial para custear o “sonho de uma noite”. Vamos ter ocasião de conversar sobre este conceito de “sonho de uma noite” mais a diante, porque eu até posso concordar que há sonhos que valem todo o sacrifício, mas o que não faz sentido é destruir a realidade para cair nos braços de morfeu. Muitos sonhos são como morfina, não tratam as causas da dor, só passam temporariamente seus efeitos, quando voltamos à realidade, lá está ela de novo, não raro, mais intensamente. Quem puder pagar por uma grande festa, com todos os predicados ditados pela moda deste tempo, que o faça. Não há erro ou pecado nisso.

Em nosso esforço de conscientização, queremos atingir as pessoas que estão inebriadas pela fascinação e não percebem que estão colocando em risco o casamento (relação), em prol do casamento (festa). Este só faz sentido por causa daquele. Nos próximos artigos iremos discutir os seguintes temas:

1. Qual o lugar da celebração do casamento (aquela que é oficiada pelo ministro religioso) e da festa de casamento? Qual o ponto de equilíbrio entre estes dois momentos?

2. Qual o objetivo de uma festa de casamento? O que se pretende realizar quando se convida pessoas para testemunharem nossa união perante Deus?

3. Quais os critérios que devemos adotar para montar a nossa Lista de Convidados? Os gastos em um casamento são diretamente proporcionais ao número de pessoas que convidamos, mas a quem devemos mesmo convidar?

4. Será que um casamento em que se oferece apenas uma fatia de bolo, um espumante ou refrigerante ainda pode ser realizado com beleza, charme e elegância?

5. Por que um bolo de aniversário custa um terço do preço de um bolo de casamento com as mesmas proporções e ingredientes?

6. Será que dá pra fazer uma excelente cerimônia de casamento, com decoração, filmagem, fotografia, música e buffet somente com pessoas voluntárias ou com amigos seus?

7. Por que deixamos de fazer cerimônias de casamentos em templos, já que, via de regra, eles cobram o mesmo preço independentemente da recepção ser feita lá ou não?

Meus irmãos, eu não tenho estas respostas, apenas estou animado a pensar sobre estas questões. Se pelo menos fizermos algumas pessoas pensarem e mostrarmos a outras tantas um caminho mais simples, já me darei por satisfeito. Há ainda o grande número de pessoas que nunca recebeu a benção de Deus para a sua relação porque não pode pagar. Como cristão e franciscano isso me entristece profundamente. Em L’Abri já realizei muitas bençãos no meio dos cultos regulares. Não é Deus quem gosta de festa, somos nós. Deus gosta é de amor.

Com carinho,

Pr. Martorelli Dantas