
Eu fui ordenado pastor no dia 11 de março de 1991, quando eu tinha 23 anos. Havia me casado alguns anos antes, em 1989, na Igreja Presbiteriana da Boa Vista, na cidade do Recife. Foi uma cerimônia simples, como era costume entre os seminaristas e como permitiam as nossas condições à época. Como pastor presbiteriano era parte de minhas incumbências celebrar casamentos, devo ter feito não mais que 20 celebrações em 13 anos de ministério naquela denominação. É que entre os presbiterianos era costume que os pastores celebrassem os casamentos somente dos membros de sua igreja local. A maior parte destas celebrações envolvia pessoas de classe média-baixa ou baixa, este era o perfil das igrejas que pastoreei.
No ano de 2003, eu passei a colaborar na Catedral da Santíssima Trindade, como auxiliar do Bispo Paulo Garcia. Isto determinou uma série de mudanças em meu ministério, mas uma das mais importantes teve a ver com a celebração de casamentos. Como Dom Paulo era o ministro evangélico mais solicitado para celebrar os casamentos no Recife, ele não conseguia dar conta de todos os convites que lhe eram feitos, assim, muitas destas cerimônias iam sendo passadas para mim e para o Pr. Alexandre Ximenes, que também era auxiliar naquela época. Mudou tudo e mudou muito. A Catedral tem um perfil diferente, a maioria de seus membros são de classe alta e média-alta.
Mas, sobretudo, grande número de pessoas da alta sociedade pernambucana procura Dom Paulo para celebrar seus casamentos, quer seja pelo excelente orador que ele é, quer seja pelo seu ministério com casais que exerce há décadas, quer seja pelo fato de que há algum tempo os padres foram impedidos de celebrar cerimônias em espaços que não sejam templos católicos. Tive, então, oportunidade de presidir em poucos meses mais casamentos do que tinha feito em toda a minha vida pastoral. A cada dia eu ficava mais impressionado com a grandiosidade dos locais, decoração, orquestras e um sem número de outras questões que envolvem estes eventos, que agitam a cidade e movem uma poderosa e pesada “indústria de casar”.
Em 2007, ano em que me separei, eu deixei a Igreja Episcopal Carismática e comecei a Comunidade Cristã. Foi como um voltar às origens, em vários sentidos. Nossa liturgia é mais leve, não há entre nós estruturas hierárquicas nem vestes sacerdotais, só gente simples, adorando a Deus de todo coração, como eu sei que acontece também nos lugares por onde passei antes. A Comunidade é um grupo de pessoas de classe média-baixa, tendo algumas poucas pessoas de classe média-alta. Mudaram também os perfis das pessoas que me procuram para fazer seus casamentos. Como os contatos anteriormente eram feitos pela secretaria da Catedral, passaram a me procurar aquelas pessoas que são indicadas por cerimonialistas que já viram minhas cerimônias, ou mesmo por casais a quem eu casei.
Hoje continuo celebrando muitos casamentos, uma média de 30 celebrações por ano, na maioria são pessoas que eu não conhecia até me procurarem para que eu as case. São em sua grande maioria, também, pessoas de classe média-alta ou classe média-baixa, mas um dado me parece alarmante. Mesmo as pessoas sem um grande poder aquisitivo querem festas cujos padrões são definidos pelas que são promovidas pelos ricos e famosos. É como se um modelo tivesse sido definido e quem quiser “fazer um casamento que não faça vergonha” tem que seguir. Não falta quem dê conselhos, quem lembre como é que foi um casamento que viu ou que soube. Em julho de 2011 eu me casei com Karina, foi uma cerimônia simples, em L’Abri, a casa que hospeda a Comunidade Cristã (veja algumas fotos em meu Facebook).
Tem, também, aquelas reuniões com os cerimonialistas, com os músicos, com os buffets, com os decoradores etc., que dizem sempre: “porque vocês não fazem mais isso ou aquilo? Com um pouco mais vocês poderiam ter isso e aquilo”. Quando os noivos veem, vão gastar mais com a festa do casamento do que com todos os móveis e eletrodomésticos com que vão equipar o seu futuro lar. Não estou criticando estes profissionais, apenas descrevo o que acontece. Eles fazem isto de modo absolutamente legítimo, estão oferecendo seus produtos e serviços, e quanto melhores e maiores forem estes, mais dispendiosos serão, bem como maiores serão as chances de lucro, estamos em uma sociedade capitalista. Que eles prosperem e que possam a cada dia prestar melhores serviços!
Logo, o Case Simples não é um movimento contra o “mercado de casamentos”, que envolve um grande número de profissionais que estão defendendo de modo honesto e honrado o pão de cada dia. O nosso objetivo é mostrar aos casais que não faz sentido se endividar ou deixar de investir no essencial para custear o “sonho de uma noite”. Vamos ter ocasião de conversar sobre este conceito de “sonho de uma noite” mais a diante, porque eu até posso concordar que há sonhos que valem todo o sacrifício, mas o que não faz sentido é destruir a realidade para cair nos braços de morfeu. Muitos sonhos são como morfina, não tratam as causas da dor, só passam temporariamente seus efeitos, quando voltamos à realidade, lá está ela de novo, não raro, mais intensamente. Quem puder pagar por uma grande festa, com todos os predicados ditados pela moda deste tempo, que o faça. Não há erro ou pecado nisso.
Em nosso esforço de conscientização, queremos atingir as pessoas que estão inebriadas pela fascinação e não percebem que estão colocando em risco o casamento (relação), em prol do casamento (festa). Este só faz sentido por causa daquele. Nos próximos artigos iremos discutir os seguintes temas:
1. Qual o lugar da celebração do casamento (aquela que é oficiada pelo ministro religioso) e da festa de casamento? Qual o ponto de equilíbrio entre estes dois momentos?
2. Qual o objetivo de uma festa de casamento? O que se pretende realizar quando se convida pessoas para testemunharem nossa união perante Deus?
3. Quais os critérios que devemos adotar para montar a nossa Lista de Convidados? Os gastos em um casamento são diretamente proporcionais ao número de pessoas que convidamos, mas a quem devemos mesmo convidar?
4. Será que um casamento em que se oferece apenas uma fatia de bolo, um espumante ou refrigerante ainda pode ser realizado com beleza, charme e elegância?
5. Por que um bolo de aniversário custa um terço do preço de um bolo de casamento com as mesmas proporções e ingredientes?
6. Será que dá pra fazer uma excelente cerimônia de casamento, com decoração, filmagem, fotografia, música e buffet somente com pessoas voluntárias ou com amigos seus?
7. Por que deixamos de fazer cerimônias de casamentos em templos, já que, via de regra, eles cobram o mesmo preço independentemente da recepção ser feita lá ou não?
Meus irmãos, eu não tenho estas respostas, apenas estou animado a pensar sobre estas questões. Se pelo menos fizermos algumas pessoas pensarem e mostrarmos a outras tantas um caminho mais simples, já me darei por satisfeito. Há ainda o grande número de pessoas que nunca recebeu a benção de Deus para a sua relação porque não pode pagar. Como cristão e franciscano isso me entristece profundamente. Em L’Abri já realizei muitas bençãos no meio dos cultos regulares. Não é Deus quem gosta de festa, somos nós. Deus gosta é de amor.
Com carinho,
Pr. Martorelli Dantas
Excelente explanação amigo, entendo que hoje este mercado tem sido altamente explorado e se tornado um grande vilão dentro dos relacionamentos, haja vista que as noivas querem de um tudo e por muitas vezes até "cansam" o pobre noivo pois todo assunto que elas tem agora a tratar se resume apenas a "festa de casamento", e esquecem do principal que é agradecer a Deus pelo que tem feito ao casal e pedir sua benção sobre esta nova família que ora se forma...
ResponderExcluirAmei o projeto, como mulher sonhadora, profissional da área, me coloco a sua disposição para o que precisares nesta nova empreitada em seu ministério...
Que Deus continue te usando com toda esta sabedoria e sensibilidade, para que casais tenham da parte de Deus, bençãos sem medida sobre cada um dos seus sonhos e projetos e que a vontade d'Ele prevaleça...sempre!
beijo grande
Parabéns pelo texto! Concordo plenamente, não é a grandiosidade da festa nem o glamour dos convidados que ira determina a felicidade e o sucesso dessa união.
ResponderExcluirA mídia tem ditado as regras e até mesmo nos cristãos estamos sendo iludidos com esses padrões.
Querido pastor já estou seguindo o blog e sempre estarei aqui lendo seus artigos e sempre que possível comentando. Abraço
Se puder depois da uma passadinha no meu blog ficarei grato www.dhiegoribeiro.blogspot.com
Querido Martorelli,
ResponderExcluirSaudações saudosas! Não posso esquecer a alegria compartilhada naquele quente maio de 2008 entre os irmãos do Caminho da Graça que se reuniram em Fortaleza. As canções, as boas gargalhadas e o doce aprendizado ficarão para sempre em minha memória.
O blog veio a calhar para mim. Meu casamento está marcado para 01/09/12 e estou às voltas com cerimonialista, profissionais de decoração, buffet, foto e filmagem, etc, etc. O fato é que: não quero casar simples. Sonhei com uma noite de glamour a vida toda e finalmente ela vai chegar. Obviamente sonhei que ela acontecesse apenas se o relacionamento fosse verdadeiro, com amor e admiração recíprocos e objetivos de seguir juntos compartilhados mutuamente. Não quero um show, quero celebrar com familiares e amigoe um momento especial.
Concordo que o casal endividar-se apenas para ter uma grande festança, "colocando em risco o casamento (relação), em prol do casamento (festa)" é uma grande bobagem e enorme contradição. Esse não é nosso caso, graças a Deus.
Acredito no "casar simples" e no "casar com glamour" desde que seja um "casar verdadeiro" sempre.
Abraço apertado da mana mineirinha:
Priscilla
Parabéns mano por suas palavras que nos faz refletir sobre a festa e a relação. Um pioneirismo que se entendido fará uma grande diferença na sociedade. São atitudes ousadas e inovadoras como estas que precisam de pessoas corajosas como você para expor as idéias.
ResponderExcluirUm forte abraço.
Paz e bem!
http://www.evangelhocomconsciencia.blogspot.com
Rev. Martorelli
ResponderExcluirFico grato a Deus por sua vida que toma iniciativas ousadas e tem colocado seus dons para edificar as nossas familias.
Djacy
O servo